д-р Никола Бенин
· A "Terra de Santa Maria" foi uma região medieval organizada administrativa e militarmente, em meados do séc. IX, por Afonso III de Leão, aquando da reconquista cristã da Península.
A chefia desta região foi entregue ao Castelo de Santa Maria.
· Inicialmente, estendia-se entre os Rios Douro e Vouga, tendo a leste as serranias de Paiva, Arouca, Cambra e Sever do Vouga e a oeste, o Oceano Atlântico.
Nos princípios do séc. XII, á área da região foi reduzida do lado Sul por virtude de uma disputa entre os Bispos de Porto e de Coimbra. A parte destacada desintegrou-se ao ser absorvida pelos territórios anexos, ficando a pertencer à diocese de Coimbra.
A parte centro e norte, manteve-se como um núcleo central. E embora ficando a pertencer à diocese do Porto continuou, administrativamente, sujeita ao governo de Coimbra.
De então para cá, aquele núcleo central com aquele nome, manteve-se até meados do séc. XIX, ao contrário do que sucedeu com outras regiões medievais, entretanto desaparecidas.
Deste "núcleo central" faziam parte territórios que hoje se distribuem por 14 concelhos do Distrito de Aveiro:
Albergaria-a-Velha (parte), Arouca (parte), Castelo de Paiva (parte), Espinho, Estarreja, Gondomar (parte), Murtosa, Oliveira de Azemeis, Ovar, S. João da Madeira, Santa Maria da Feira, Sever do Vouga (parte), Vale de Cambra (parte) e Vila Nova de Gaia.
· No referido espaço geográfico delimitado por aqueles acidentes naturais muito fortes, foi-se desenvolvendo:
Um espaço económico muito importante vivendo numa grande complementaridade de subsistência: As serranias davam-lhe a caça, a pastorícia e a abundância de madeira. Os rios que a atravessavam e a extensa orla marítima, asseguravam-lhe a pesca. Nas planícies que se estendiam de leste para o mar era o cultivo de cereais e do vinho. Uma prospera zona de extracção de sal, em Cabanões, garantia este elemento indispensável à conservação dos alimentos. A par disto, uma notável rede viária assegurava um comércio intenso num local de passagem obrigatória entre Coimbra e o Porto. Junto ao Castelo a realização de grandes feiras comerciais acabaram por dar o nome à povoação: Feira (já em 1117);
Um espaço militar muito forte apoiado numa organização militar permanente para defesa contra as incursões árabes;
Um espaço cultural servido por dezenas de cenóbios e pelos grandes mosteiros de Grijó e de Pedroso. Estes institutos religiosos davam, àquelas gentes, para além de um esquema de valores cristãos, a possibilidade de funcionarem como centros administrativos para a redacção de documentos. Tudo isto, acabou por gerar um clima de "auto-suficiência de vida" e "uma identidade peculiar", de que algumas linhas mestras perduram até aos nossos dias.
· E foi, exactamente, esta pujança económica, esta força militar organizada e esta "identidade cultural" de independência, que acabaram por desempenhar um papel decisivo na formação e consolidação da nacionalidade portuguesa com o levantamento colectivo que teve o seu epilogo na batalha de S. Mamede, em 1128.
Como refere o Prof. José Mattoso, (" O Castelo e a Feira", p. 160)
..." A Terra de Santa Maria pode ser considerada como um região, que, no caso de ter estabelecido uma ligação preferencial a Coimbra, deveria, teoricamente, ter inviabilizado a construção de um novo Reino. Em vez disso, associando-se a Portucale e garantindo o seu prolongamento em direcção à mesma cidade de Coimbra, acabou por constituir o elo de ligação com ela."
Por tudo isto, bem pode dizer-se que a Terra de Santa Maria é a
· O castelo de Santa Maria da Feira é um dos mais notáveis monumentos portugueses quanto à forma como espelha a diversidade de recursos defensivos utilizados entre os séc. XI e XVI e que o torna peça única da arquitectura militar portuguesa.
· Do antigo castro romano, e depois fortaleza ampliada na época da reconquista cristã, restam dele hoje, apenas o 1º piso da “Torre de Menagem”.
D. Sancho I, deixou-o, por testamento, a suas filhas. - Mais tarde (1300) foi incluído no património da Rainha Santa Isabel.
No séc. XV (1448) o Rei D. Afonso V entregou-o a Fernão Pereira com a incumbência de o fazer restaurar. Data desta época a imagem arquitectónica essencial que ele hoje apresenta.
Em 12 de janeiro de 1472, o mesmo Rei nomeou o filho daquele, Rui Vaz Pereira, 1º conde da Feira, senhor do Castelo e da Terra de Santa Maria. Com a morte sem descendência do último conde (1700), o Castelo passou à casa do Infantado (1708). Em 1722 o Palácio dos condes, construído dentro das muralhas, e a Torre de Menagem sofreram um violentíssimo incêndio – ao que se diz por ordem do próprio rei D. João V – receoso das ambições de seu irmão, o infante D. Francisco.
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